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No Saara, faz frio à noite


Deitada no meio de um lugar diferente, abri os olhos e descobri o céu azul limpo, quase sem nuvens com um sol quente e brilhante. O vento naquele local parecia um tanto forte, mas até então, que lugar era esse? Olhei para um lado, areia, para o outro, a mesma coisa. Não é uma areia qualquer como a de uma praia, que é mais clara e muitas vezes chega a ser quase branca. Aquela areia tinha vida, uma cor pouco laranja, uma cor forte.

Comecei a me levantar e meus pés afundavam conforme eu os apoiava naquele lugar totalmente diferente de qualquer coisa que eu já tenha visto de perto. A areia está em todo lugar e até mesmo forma elevações, parece um deserto. Mas a minha sensação era de estar no meio do nada. Sozinha.

Como eu já tinha sentido antes, o vento era forte e era visível pelas alterações que fazia, a areia se deslocava de um lugar para o outro com um certo tipo de leveza e descia as dunas. Ele também levava o meu vestido vermelho que também era leve e continha mangas. Decidi tocar aquela areia diferente e misteriosa, coloquei as mãos nela como se fosse uma concha e puxei a areia, que era fofa ao tato. Mas ela não permanecia tanto tempo na mão, ela se esvaía e voava de volta ao solo se misturando novamente.

Eu achava que não devia ficar tanto tempo ali parada, comecei a caminhar, o que não era tão fácil, os pés afundavam e formavam pegadas profundas a cada passo dado. Mas aquilo era magnifico de se ver quando olhava para trás. Depois de um bom tempo caminhando, percebi que aquele sol queimava e ardia, as vezes parecia que os cabelos pegavam fogo. A sede aumenta e você só sabe pensar "logo deve aparecer um oásis".

Por mais belo que fosse, há momentos que você só pensa em desistir de andar para qualquer lugar, não há nada no horizonte. E a agonia de estar sozinho em um lugar que você não conhece, naquela hora, eu parecia estar sozinha no mundo. Mas não parecia certo. Se eu estava naquele lugar, haveria um motivo.

Vendo toda aquela grandiosidade, conclui que provavelmente eu arrumaria um significado para tudo isso. Acreditava que aquele era o deserto do Saara e percebi que quase não tinha vegetação. Além das marcas dos meus passos, o vento formava desenhos além das dunas, como se fossem listras. Fiquei imaginando quantas pessoas haviam passado por aquele lugar. Por mais que possam ter sido muitas, o vento já cobriu suas pegadas.

A cada passo que eu dava, parecia que novos pensamentos surgiam, bons e ruins. Um medo me assombrava a mente: e se, de repente, uma tempestade de areia surgisse? O que fazer? A sensação de ser envolvido por toda aquela areia, que se levantaria em uma altura inimaginável fazendo o céu e o sol sumirem. Acho que não há o que fazer nesses casos. Então seria melhor aproveitar a tranquilidade que aquele lugar podia passar.

Eu não tinha horas, mas o sol foi descendo, a temperatura acalmava e se tornava uma sensação prazerosa estar ali. Em alguns momentos, eu agarrava um punhado de areia em cada mão e sentia ela cair aos poucos. O céu começava a ter um tom laranja forte, que deixava a areia de outra cor. Tudo tinha uma cor dourada, bonita. E conforme o céu foi se tornando escuro, eu tive uma grande surpresa: além das estrelas, aparecia a lua, que ajudava a não tornar o deserto tão escuro, mas sim com uma tonalidade azul. De repente o deserto se tornou frio, um grande contraste com o dia quente que havia feito há pouco tempo. Tudo mudou. Eu acho que nunca havia visto tantas estrelas, elas estavam em todos os lugares.

Como é possível que tudo mude do dia para a noite? Eu acho que é por meio dessa pergunta, que eu retiro a minha reflexão sobre essa caminhada totalmente diferente.

Caminhar no deserto é como viver e deixar as coisas acontecerem naturalmente, se permitir descobrir novas sensações, mas também é passar por problemas. Alguns problemas são pequenos como o sol parecer queimar cada vez mais e outros são grandes como tempestades de areia. Em alguns momentos, queremos desistir, mas se ficamos parados, estagnados, podemos ser cobertos pela areia. Afinal, achar oásis, paraísos no meio do deserto, pode ser difícil e podemos até achar impossível, mas em algum momento a persistência pode te levar a achar algum ou algo diferente. Nunca pare de caminhar.

A vida muitas vezes pode ser uma experiência agoniante ou pode ter momentos belos como o pôr-do-sol do deserto. E a vida muda todos dias, a cada mês, a cada hora, do dia para a noite, assim como a temperatura e o céu. Algumas coisas são deixadas para trás, como as pegadas que somem com o tempo e também existem momentos que são raros, que marcam as nossas vidas, como chuva ou neve no deserto.

E quando se sentir só, olhe ao redor. Tenha pensamento bons e ruins sobre si mesmo, são nesses momentos que podemos reconhecer o tudo onde antes acreditávamos ser o nada. E de alguma forma, o nada pode ser algo.


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