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Mil Sensações


 Senti a areia com os pés, estando em frente ao mar. Não tocava o mar até então, somente a areia ainda seca. Havia uma brisa fresca que balançava os meus cabelos e o vestido azul que se bagunçava em volta do corpo.

   Era um entardecer bonito. O céu estava azul com nuances rosa e laranja nas nuvens e perto do sol, que já se escondia atrás delas deixando a cena mais escura. O mar tinha água cristalina e refletia um pouco das cores do céu. Até mesmo a areia tinha uma cor diferente pela claridade. As cores pareciam conversar, de forma que me passava paz. Leve e, por um momento, livre, senti como se eu pudesse levitar. 

   O oceano parece chamar o nosso corpo em alguns instantes, como um convite para o toque, para as mil sensações diferentes. Então me deixei levar.

   As texturas da areia começaram a mudar conforme eu dava os passos. Da parte seca e fofa passei para a molhada e um tanto gelada. O primeiro toque com o mar foi numa parte onde as ondas acabaram e só vinha um fluxo pequeno de água. Mas ainda não era o suficiente para cobrir os meus pés por ser muito raso. 

   Junto dos pés pouco molhados, a barra do vestido longo já começava a molhar, pouco a pouco.

   O vento parecia ficar mais gelado. A ideia de levitação continuava e se tornava mais presente. Entrei ainda mais no mar, sentindo o mar cobrir os pés por inteiro e a barra do vestido pesar um pouco mais. Fui tomada por uma sensação que causava alguns arrepios que eram bons de sentir. Fiquei parada por um tempo, sentindo aquela outra sensação de que você "se movimenta parado", onde os pés começam a afundar na areia com ajuda da água e quanto mais parado você fica, parece que está sendo levado para algum lugar.

   Andei ainda mais olhando para o céu, que parece ficar maior e mais colorido. O vestido azul, que aparecia com detalhes no meio do mar, estava pesando muito mais. É muito mais difícil andar de roupas dentro da água, parece que tudo te puxa para baixo e você não consegue se movimentar com tanta facilidade, mas não importava. Ainda parecia tranquilo, mesmo com o peso, conseguia aproveitar aquela vista e me sentia livre.

   Em determinado momento no mar, eu já estava bem coberta. Inclinei a cabeça para trás, desencostei os pés da areia e flutuei por segundos. Os cabelos se espalharam pela água e flutuaram junto comigo. Nesses momentos, as sensações te hipnotizam e é como estar encantado: quanto mais você fica, mais você quer ficar. 

   Mas não é como boiar numa piscina. As ondas vem e vão. Acabaram por me cobrir. Flutuei submersa, sentindo a água em todos os lugares, especialmente no rosto. O que era uma boa sensação se tornou algo sufocante, por segundos infinitos. 

   Perdida, tentando achar a superfície. Os pés não acham o chão, o peso de repente parece te dominar muito mais do que antes e não tem como enxergar tão bem. Porém, tudo que eu precisava era simples.

   Calma.

   Nós nos desesperamos muito fácil, é necessário calma para resolver algumas coisas.

   Em pouco tempo de desespero, toquei o chão e me recuperei ao impulsionar, alcançando a superfície. O dia continuava bonito e continuava a chegar perto da noite. 

   Estava um pouco sem fôlego, porém o pior já havia passado. Comecei a voltar para a beira do mar pensando em tudo que aconteceu. O vestido ficou muito mais pesado quando cheguei na beira. Olhei para o mar novamente e a sensação de tranquilidade voltou por um momento com lapsos de desespero por lembrar da eternidade sem respirar.

   Mas não havia problema, eu estava bem.

   Em algumas horas, quando tudo parece tranquilo, algumas situações ou pessoas nos colocam para baixo, quase como se estivesse sufocando e nos puxam para o fundo. Quando nos desesperamos, o nosso mundo desaba e nós apenas afundamos.

   Por momentos, podemos estar embaixo de muitas ondas e sentindo um peso enorme, cegos e muitas vezes nos sentimos sem chão. Não pense no que te puxou para o fundo e como isso te afeta. Pense que há um chão e um lugar onde você sabe que pode chegar, mas às vezes só depende de você nadar a favor disso e achar a sua superfície novamente.


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