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Você Veio Sempre Aqui?


Preciso te perguntar algo rápido que talvez não lhe faça sentido.

Olhei para você e não entendi a sensação que tive ao te ver entrar pela sala. Parece um déjà-vu, como se você já viesse aqui há muito tempo, mas dessa vez é diferente. O clima é outro, é pesado, tenso, como se estivesse prestes a chover sobre nossas cabeças mesmo que haja um teto.

Você parece familiar e sei que te conheço há muito tempo. Foram o quê? Anos? Meses? Hoje, parece que foram apenas dias. Talvez dia, no singular. Tudo que sei é que meus pensamentos giram e giram como um filme sem fim, passando todos os momentos bons que já vivemos. Lembre-se de todos os sorrisos, todos os abraços ou toques, as risadas e os segredos. Quando olho o fim, parece que a categoria desse filme vira um drama, o que destoa.

Te vejo em minha frente e só não sei o que te dizer. Acho que já conversamos sobre tudo que podíamos conversar. Todos os assuntos acabaram. Mesmo que um novo comece, não é a mesma conversa envolvente. Nós dois sabemos que estamos com tédio, ódio, talvez um pouco de desprezo, o que é estranho.

Estranho.

Achei o termo certo para explicar as sensações, o clima e o desespero. Estranho. Somos estranhos. Faz sentido. Porque quando éramos conhecidos ou mais que isso, nós sentíamos coisas totalmente diferentes. Agora tudo é muito frio, arrogante e estranho.

Eu sei que você esteve aqui de alguma forma. Temos história juntos. Tínhamos um mundo nosso. Nossos sonhos, nossos segredos, nosso tudo. Mas, por mais que force para que continue igual, não é. Acabou o nosso tempo, aquele tempo que passava rápido porque a gente aproveitava. Hoje, passa devagar, lento, como se quisesse nos enlouquecer.

Foi como uma xícara de café. Teve todo um preparo, um cuidado único de cada um, teve aquela emoção da mistura e de como tudo era perfeito junto. Mas, depois de muito tempo, esfria. E cá estamos frios um com o outro.

Muitas pessoas refletem em como as suas relações, sejam de amizade ou namoro, simplesmente evaporaram. É estranho como tudo acaba de repente e não se sabe como recuperar o tempo perdido.

E é por esse estranhamento que corre entre o ar que a gente respira, que está no meio das palavras, que me faz ver que eu não te reconheço mais. E assim como o tempo que não volta, algumas relações também não. Então, foi bom enquanto durou.

Depois de tanta reflexão sobre tudo que passamos, faço a pergunta que eu disse no começo, que talvez não lhe fizesse sentido:

– Você veio sempre aqui?


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